Nada mais que o fresquíssimo Almodôvar, ainda por estrear, nas salas de cinemas portuguesas.
Conta com a participação de Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo, José Luís Gómez, Rubén Ochandiano e Tamar Novas, entre outros.
Na banda sonora, o já habitual Alberto Iglésias e Cat Power.
Argumento e realização de Pedro Almodôvar.
O nosso estranhíssimo realizador multi-caretas conseguiu dar-nos um pouco da imagética já explorada ao longo da sua carreira.
Desde a surrealidade de Negros Hábitos da Sor Estiércol, passando pelo kitsch das Mulheres histéricas á beira de um ataque de nervos, a vulnerabilidade da romancista cor-de-rosa dependente da Lei do desejo, até ao dramalhão de Falar com ela e à Carne viva, que talvez o mais atípico, mas presente á sua maneira. Mas estética do kitsch é predominante.
Habituada, eu, a ver excelência nos filmes do nosso estranhíssimo multi-caretas, muito carinhosamente falando, um filme muito bom sabe a pouco. Pareceu-me incompleta a acção principal, pouco desenvolvida ou deixada demasiadamente em aberto, já que acontecem uma série de pequenas peripécias co-relacionados, que pela porção e complexidade, não me foi possível focalizar as atenções na acção central, em apenas 2 horas de filme. Há uma obsessão, até bastante agradável, direccionada aos pormenores, que me turvou e desviou um pouco da atenção prestada ao enredo principal, ou então talvez servisse de intervalo de tensões, embora a tensão se arraste mesmo nas pequenas intrigas? Mas não é um filme tão intenso e dramático, no argumento e mesmo ideologicamente, como é Tudo sobre a minha mãe ou O que fiz para merecer isto, para carecer dessas pausas. É certo que esses pormenores viriam a fornecer dados importantes, para entender alguma coisas do filme, no âmbito geral. Confesso que preciso de vê-lo de novo para afirmar que esses dados seriam intuitivos, no desenrolar da acção principal.
Faltou-me o occídio emocional, tão latino, tão melodramático, o turbilhão de acontecimentos não me fez tremer o lábio e, mesmo assim, nesse turbilhão, faltou mexer no sangue e amalgamar as vísceras, enquanto se torce a lâmina enterrada no joelho, com uma pitada de Sufre Como Yo.
A crítica dos entendidos é muito boa, muito boa, mas para mim...
Este filme é um filme dentro de um filme. Acontece durante as rodagens de qualquer coisa como um À beira de um ataque de nervos, até mesmo com a participação carismática de Rossy de Palma, actriz indicada para qualquer personagem caricatural. Como quase sempre, há uma história de amor disfuncional, histérica e esquizofrénica, deliciosa ao ponto de fazer o espectador desejar vivê-la.
Quem nunca sonhou viver numa estória de amor impensado? E sentir compaixão do vilão, ao ponto de se reconhecer nele, ou então ao ponto de o rejeitar de tal modo, que só uma caricatura pode sobreviver desta forma. Tão solene ou tão medíocre? É que chega a um ponto em que os heróis se tornam vilões e mesmo assim o espectador se identifica com eles. Uma espécie de anti-herói. Fará sentido?
Penélope Cruz está fabulosa, nesta película, pela primeira vez a vejo como uma mulher muito bonita e não como uma rapariga adolescente na casa dos 30. Ao longo deste filme, deambulou entre Audrey Hepburn, pin-up, senhora tradicional, sem deixar nada a desejar. Avé Penélope, de Em carne viva, Tudo sobre a minha mãe, e Volver.
No restante elenco LLuis Homar, que participou em Má educação, fez o papel de senhor Berenguer, dá o toque de Frasier ao filmee a Blanca Portillo, uma cara já conhecida de Volver.
E tento perceber o significado deste título, Os Abraços Quebrados? Rompidos? Rasgados? À letra talvez, mas em jeito de interrompido? Ou finalizado? Embargado? Poeticamente, não há nada mais fácil de interpretar, ou então de não interpretar, assumidamente, não interpretar... A imagem é extremamente interessante: abraços rasgados, o que acontece quando os abraços rasgam? A pedra grita? Os beijos doem? As mãos cantam? E os olhos dançam?
O significado exaltado que damos ao abraço e ao bem-estar, que de si advém é cientificamente provável. O abraço funciona como pressão dos tecidos da pele, dos músculos e, em geral, da corrente sanguínea. Dependendo dos sujeitos, emissor e receptor do abraço, poderá ocorrer um choque profilático inicial, que, gradualmente, vai findando, como em situações de abraços forçados, ou abraços de desconhecidos. A pressão sobre os tecidos, comprime os músculos e órgãos do corpo, que por sua vez massajam veias e artérias, abrandando assim a pressão sanguínea. Em consequência, os batimentos cardíacos também refreiam, o que modera o consumo de oxigénio das diferentes partes do corpo, logo relaxando o indivíduo que experencia o abraço, porque o oxigénio é um excitante.
Um sinónimo de abraço é amplexo, que belo nome! O dicionário miserável do meu computador, diz-me que chi é unívoco de amplexo também. A sinonímia do léxico português é prodigiosa.
Nunca percebi muito bem como é que os artistas, criadores, operadores poéticos, funcionários da artes, profetas da Estética escolhem o título à obra... Antes? Depois? No processo? Aleatoriamente? Dão aos filhos a escolher? Abraços rotos...
A conclusão a que cheguei depois de ver este filme é que abraços rotos provocam cegueira.
http://www.losabrazosrotos.com/
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Los abrazos rotos
sexta-feira, 8 de maio de 2009
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1 Comentário:
- Anónimo disse...
-
Interessantes opiniões! E linda crítica! Para mim, o filme não funciona na totalidade porque Almodóvar, após tantos filmes, ainda falha na execução, ainda sentimos que é alguém que procura emular uma certa linguagem de cinema, mas que nunca chega lá. Onde ele sempre brilha e onde sempre brilhará é na beleza dos textos e na veracidade dos personagens. Por este motivo, os seus filmes serão sempre desculpados por qualquer falha inerente.
Ah, e para mim, Abrazos Rotos são abraços que ficaram por se dar. Pelo menos é a impressão com que ficarei até vê-lo novamente, tal como tu. -
9 de maio de 2009 às 20:01
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