My Blueberry Nights

Há todo um sentimento de déjà-vu neste delicioso MY BLUEBERRY NIGHTS de Wong Kar Wai. Eu passo a explicar: o espectador que já tenha visto os outros filmes deste realizador vão desde logo identificar os planos e os enquadramentos escolhidos que entretanto se tornaram na sua assinatura visual, assim como as histórias de amor/desamor, encontro/desencontro tão próprias do seu universo pessoal. Está tudo aqui, neste que é o seu primeiro filme em inglês e com actores ocidentais. Devem estar neste momento a perguntarem-se: mas porquê este filme no Maus da Fita e porquê só agora? Muito simples: porque eu não cheguei a vê-lo nas salas e porque acabei de comprar o DVD que estava em promoção. Pronto.

MY BLUEBERRY NIGHTS não desaponta, mas também não surpreende pelas razões acima enumeradas. Só mudaram mesmo as paisagens e as caras, porque de resto a temática é a mesma. Mas há que ver uma coisa: mais nenhum realizador consegue filmar o romance e a linguagem interior das personagens como Kar Wai. Nisto é único e ninguém lhe tira o crédito de fazer resultar um filme inteirinho com meia-dúzia de personagens ligeiramente vagas e desafectadas e um enredo, no mínimo, simplório.

O seu maior trunfo é ser um mestre do simplismo elegante e este tipo de arte de contar histórias com imagens belas e diáfanas é praticado por ele de forma exemplar. Ninguém pode negar que, quando acaba de ver um dos seus filmes (e este não é excepção), se sai carregado de imagens icónicas e de emoções intrinsicamente a elas ligadas.

Norah Jones interpreta aqui o principal papel e safa-se muito bem, sim senhor. Seja lá o que o realizador viu nela, viu e muito bem porque a sua presença é agradável aos olhos e não provoca atrito aos nossos gostos cinéfilos, por vezes elitistas. Isto de ser estrela de jazz ligeiro não é para aqui chamado e Kar Wai dá a volta a isso de forma muito elegante desde o início. E depois temos também as luminosas presenças de Jude Law, Rachel Weisz e da etérea Natalie Portman, cada vez mais mulher.

Vejam para se apaixonarem ou vejam ainda se apaixonados. Mas vejam. Porque vale a pena.