"Boom!" ou A Bizarra Carreira de Elizabeth Taylor Parte 1

domingo, 6 de setembro de 2009


Curiosos? Têm toda a razão para o estar. Este é de facto um marco na carreira de Taylor e do seu então marido, Richard Burton, assim como no cinema de cariz "camp", do qual sou um acérrimo defensor e fã. E este é um dos melhores exemplos do "camp": um filme que se leva tão a sério que não vê a figurinha ridícula que está a fazer. É claro que para isto contribuem cenas antológicas de nonsense não-intencional que provocam sorrisos, expressões de baralhamento, gargalhadas e até faltas de ar nos seus espectadores. BOOM! está cheio desses preciosos momentos. Não é por nada que John Waters o considera um dos seus filmes maus favoritos. Sejam bem-vindos então a um glorioso e bastante bizarro episódio da carreira de Elizabeth Taylor. Um de muitos. Mais para a frente irei debruçar-me sobre mais alguns filmes dignos de mérito aqui no Maus da Fita.

Antes de mais nada, é preciso dizer uma coisa sem o mais pequeno pudor: Taylor é a Rainha das Trannies. Senão vejam: a senhora foi amiga e contracenou com James Dean, Rock Hudson, Montgomery Clift, Roddy McDowell e Marlon Brando, todos eles "meninas" de topo no auge das suas carreiras (ver Top 5 das Meninas mais abaixo para melhor compreensão). Taylor nos anos 80 foi uma das maiores beneméritas no combate à SIDA. Foi amiga e confidente de Michael Jackson. E ficamos por aqui, não? Acho que é mais que evidente que a senhora sente-se bem perto da malta gay. Power to her! Outra grande figura de quem foi amiga e ajudou a difundir a sua grande arte, foi de Tennessee Williams, para mim o maior dramaturgo americano do século XX. Outra menina. Taylor entrou na maioria das adaptações ao cinema das suas obras e este BOOM! foi uma delas. A obra original chama-se THE MILK TRAIN DOESN'T STOP HERE ANYMORE e Joseph Losey foi o responsável pela sua adaptação ao cinema com a própria colaboração de Williams no argumento. Por isso, o que está lá, foi por inteira vontade e responsabilidade dos seus autores. Até aqui tudo bem. Mas estou a ver-vos perguntarem-se a si mesmos: mas onde é que tudo correu mal, com tanto talento à mistura? Follow me.

Pelos vistos, as filmagens de BOOM! foram feitas com muito álcool à mistura. Losey, o realizador, estava constantemente inebriado, segundo consta e como tanto Taylor como o seu marido Burton também gostavam duns copitos, os resultados foram, digamos, bastante relaxados e divertidos. Quem não deve ter gostado foi a Universal que teve um dos seus maiores flops de sempre para a altura. Mas isso para aqui não interessa nada. Vamos ao enredo. Taylor faz o papel de Sissy Goforth (já viram bem o nome?), uma viúva riquíssima que vive em completo isolamento numa ilha que é sua e que passa o tempo a berrar com a criadagem e a dizer os disparates mais eruditos já proferidos por alguém às portas da morte. Pois, é que a senhora está a finar-se. Eis que entra Burton em cena com o seu Angelo del Morte (quão óbvio se pode ser, meux amigox?). O leitor por esta altura já adivinha o fim, mas não pense que isto se fica por aqui. Não senhor. Há uma outra personagem de que vale a pena falar: a Witch of Capri, protagonizado nada mais, nada menos do que por Noël Coward. Outra menina. Isto promete, não promete?

E depois há as roupas e os penteados de Taylor que vão do chique ao extravagante, do bizarro ao desconcertante no espaço de breves cenas. E os seus olhos, é claro. Que olhos! Ah!, e a fotografia é lindíssima, num widescreen fabuloso o que dá logo toda uma patina de requinte às festividades. Não se esqueçam que na altura Taylor e Burton eram os Brangelina dos nossos dias, um casal da realeza de Hollywood e este filme um veículo para as multidões que os queriam ver actuar juntos. Escusado será dizer que as pessoas que foram assistir a este espectáculo requintadíssimo e de grande arte saíram das salas de cinema com um ar bastante... abananado...?

Despeço-me com o filme em si, em toda a sua duração e esplendor. Vejam-no pelas razões acima enumeradas e por cenas como as que Taylor, depois de um ataque violento de tosse e após ter emborcado álcool e barbitúricos, pega num microfone e começa a ditar ordens para a sua assistente pessoal (a Blackie, uma loira muito insonssinha, quase me esquecia dela) num tom muito próximo do HAL do 2001: ODISSEIA NO ESPAÇO, ecoando a sua monocórdica voz por toda a imensa casa até chegar à sua recipiente. É ver para crer. Aventurem-se.