Control

quarta-feira, 2 de setembro de 2009


Os Joy Division são uma banda que me acompanha há mais de 15 anos; actualmente são bastante conhecidos (bem, não tanto quanto a Madonna certamente) e em Portugal isso deveu-se aos valorosos esforços do Miguel Esteves Cardoso que, como eu, achava que estes tipos eram proféticos e geniais. Hoje em dia muitas bandas da “nova vaga” de rockalhada-a-mandar-ao-post-punk reconhece-os como uma influência e, quando não os reconhecem, reconhecemos nós, os fãs de Joy Division, no som deles.

O Ian Curtis, o vocalista e autor das letras, tinha uma maneira de escrever séria e cavernosa na qual eu me revia e revejo com frequência.

Durante muito tempo a única coisa que eu soube da vida do Ian Curtis foi que ele se tinha suicidado aos 23 anos de idade. Abstive-me sempre de ler a biografia escrita pela mulher dele, Deborah Curtis, porque sabia que era tendenciosa. Ela dizia coisas terríveis do Ian que mesmo sendo verdade eu preferia não saber; Concerteza que ela também disse coisas terríveis dele por ele a ter traído.

Tinha visto o 24 Hour Party People como bom fã da cena Mancuriana que sou, mas sejamos sinceros, o retrato que dá dos Joy Division é, no mínimo, superficial; não o podia ser de outro modo, claro, porque o filme falava era da Factory e tudo o resto.

Finalmente alguém fez um filme decente sobre os Joy Division, e esse alguém calhou logo a ser o Anton Corbijn, realizador de tele-discos e o tipo que tinha feito o vídeo Atmosphere.

E pronto, assim foi que me vi confrontado com a biografia da Sra Curtis, uma vez que o filme recorre muito a ela.

Na verdade o filme é mais sobre o Ian Curtis do que sobre os Joy Division que surgem mais aqui como a sua banda, do que como uma banda – esta minha afirmação é um pouco injusta é certo, mas nem por isso absolutamente falsa: ouçam os New Order, a banda que se formou após a morte do Ian e digam-me qualquer coisa.

A vida do Ian, como se costuma dizer, dava um filme.

O tipo que o mundo viu partir aos 23 anos era daqueles “larger than life” que teve o azar (ou a sorte) de aparecer em Manchester (numa altura menos famosa para a Inglaterra pós-Industrial), que se apaixonou por uma querida lá da terra que tinha ambições próprias de rapariga lá da terra, deu a alma a uma das bandas mais influentes dos anos 80’s e o corpo à medicação para combater a sua epilepsia.

O filme acompanha a ascenção dos Joy Division que começam a tornar-se famosos e a dar concertos por aqui e por ali. Num desses concertos o Ian (Sam Riley) conhece a bela Annik (Alexandra Maria Lara) pela qual se vem a apaixonar. Aqui poderíamos ter tido um retrato de mulher-malvada-que-destrói-lares com a moça, mas não, ela afinal era só aquele estímulo intelectual que a Deborah Mancuriana (Samantha Morton) já não era, agora mãe de uma filha de Ian.

Este senhor sabe fazer filmes: não é facil emitir juízos morais sobre as personagens que ele descreve. São todas muito cinzentas em todo o seu preto-e-branco.

Uma das coisas que este filme consegue é fazer com tenhamos pena de toda a gente: pena da Deborah que obviamente amava o Ian, pena da Annik que era a outra porque não podia ser a única e pena do Ian porque, caramba, o rapaz sofria mesmo muito com tudo.

Já se sabe, o Ian suicida-se enforcando-se em casa e assim termina o seu sofrimento e ninguém que veja o filme poderá deixar de sentir empatia por aquele que não conseguiu lidar com os seus amores perdidos, com a pressão de ser famoso e com a epilepsia que na altura era ainda uma coisa estranha e sem medicação adequada.

Técnicamente o filme é um mimo. Preto e Branco brutal, grande mise-en-scéne, e desempenhos magistrais por parte dos actores com especial destaque para Sam Riley que para além de ser parecido com o Ian Curtis, desempenha o epiléptico alienado como ninguém.

Quem gosta de Joy Division tem de ver, quem gosta do Ian Curtis não pode perder. Quem gosta de cinema bonito, já agora aproveite e veja também.