Viva

sexta-feira, 4 de setembro de 2009


Sabem qual seria uma noite perfeita no Drive-in? Ver uma double-feature do PERVERT (ver mais abaixo) com este VIVA. Se há filmes que realmente prestam homenagem aos filmes de exploitation que eram produzidos aqui há 40 anos atrás, são estes. O PERVERT pelas razões abaixo explicadas (basicamente por ser um filme tão próximo da linguagem cinematográfica do falecido Russ Meyer que mais parece ter sido feito por ele e não pelo estreante Jonathan Yudis) e o VIVA por ser quase perfeito no retratar das roupas, cenários, temas e actores tão próprios da época em que se enquadra. Dois nomes então a ter em atenção: Yudis e Biller. Anna Biller, isto é. Sim, VIVA foi realizado por uma mulher e é ela que representa também o papel principal. Mas vamos por partes.

VIVA é o primeiro filme de Anna Biller e se este filme mostra alguma coisa, é a sua enorme capacidade para captar toda uma era onde o Kitsch era rei (ou rainha, se preferirem…), querendo isto dizer que nenhuma casa era demasiado garrida, nenhuma roupa sem polyester e nenhum penteado sem laca ou aplicação de cabelo artificial. Sejam bem-vindos então à América dos anos 60, onde a definição de bom-gosto está agora bem longe dos nossos padrões estéticos actuais que primam o minimalismo zen como o supra-sumo da decoração moderna. Pois esta América era tudo menos minimalista ou neutra e Biller percebe essa particular sensibilidade pop até ao tutano. Tanto assim que por vezes nos esquecemos que estamos a ver um filme feito no ano passado! Vejam o trailer no fim deste post e depois digam alguma coisa!

Biller protagoniza o filme com uma personagem chamada Barbi (assim mesmo, sem “e” no fim), uma dona de casa sem nada para fazer que de tão aborrecida que se sente, vai explorar todas as avenidas e vielas que a década da revolução sexual lhe tem para oferecer. E digamos que, com a ajuda da sua amiga Sheila (eu sei…!) vão se meter em aventuras impróprias para menores e para grande gáudio dos maiores que assistem a esta pequena pérola. Segue-se então todo um compêndio de lugares-comuns dos filmes de exploitation da altura: bordéis manhosos, campos de nudistas (com frontalidade sexual masculina exibida em todo o seu flácido esplendor), go-go dancing, diálogos foleiros e maquilhagem tão colorida que mais parece que uma criança pegou nos lápis de cores todos que tinha na caixa e se divertiu com as caras das actrizes. Kitsch é fixe, eu sempre disse.

O enredo, pelos vistos, foi tirado de uma carta escrita em 1969 à Penthouse por uma leitora. Exactamente. Até neste pormenor o filme é fiel à época. Perfeito, não acham? A meu ver, o único aspecto onde o file peca é na sua duração. Não havia necessidade de esticar isto até às 2 horas. O ideal seria se durasse 87 minutos, como muitos filmes da altura duravam. Ou até 77 minutos, mas aí ficávamos todos a chorar por mais. Porque dá realmente gosto ver coisas destas feitas de maneira decente, se é que posso aqui usar esta palavra, e com verdadeiro respeito pelo material abordado. É que, ao contrário de um Tarantino por exemplo, Biller não tenta mostrar que é mais inteligente ou mais sofisticada do que os realizadores ou tipo de cinema que presta homenagem. Não. O que se vê é verdadeiro amor por um cinema que há muito deixou de ser praticado devido à proliferação gradual e cada vez mais intensa da pornografia, onde o enredo, cenários e até os próprios actores deixaram de interessar.

E depois há frases como esta: “Eu sempre quis ser uma prostituta. Parece-me algo tão romântico!”. A ver a todo o custo, claro.