Double-feature: Onibaba + Kuroneko

sexta-feira, 30 de outubro de 2009


Mesmo, mesmo antes do Halloween dou por mim a revisitar dois clássicos do cinema de terror japonês dos anos 60 que já há muito tempo não punha os olhos em cima: ONIBABA e KURONEKO, ambos do realizador Kaneto Shindo. E porquê uma sessão-dupla deste par, perguntam vocês? Pois se querem saber, venham daí.

Shindo pertenceu à nova vaga de realizadores/autores japoneses que fizeram furor durante a revolucionária década de 60. Procurando novas formas de contar histórias e novos temas com maior relevância, assinaram dos títulos mais emblemáticos da época e dos seus talentos saíram filmes ainda hoje falados e ainda hoje vistos com renovado interesse e admiração. A Shindo, podemos acrescentar também Nagisa Oshima, Hiroshi Teshigahara, Masaki Kobayashi, Shohei Imamura e Yasuzo Masumura, todos eles criadores de poderosas obras de arte que têm o condão de funcionarem como peças esteticamente inovadoras, sem nunca deixarem de ser interessantes para o espectador, nem nunca serem desnecessariamente difíceis de assimilar.

Em ONIBABA e KURONEKO, Shindo oferece-nos uma visão de um mundo em turbulência, de uma época em que o Japão estava a sofrer grandes privações e conflitos e em que os samurai se aproveitavam da sua posição social e do seu poder bélico em detrimento dos mais fracos e desfavorecidos. Mas o que une estes dois filmes é o facto de as personagens principais serem duas mulheres em ambos os casos e que se vão ver a braços com situações extremas de sobrevivência. Isso, e de ambos conterem também elementos de terror (pensavam que já estava a fugir ao tema do mês, não era? Enganam-se! Isto é cinema fantástico com assinatura de mestre, meus amigos).

Em ONIBABA, há uma sogra e uma nora que esperam o retorno do filho/marido que nunca chegará, visto ter sido morto na guerra. Já em KURONEKO, temos uma mãe e uma filha que esperam o retorno do genro/marido que voltará sim, mas para encontrar os espectros/fantasmas das mesmas que pereceram às mãos de samurai sem escrúpulos. Como vêem, há aqui elementos suficientes para os ligarmos como obras-irmãs e para estudarmos as suas diferenças e semelhanças. Podiamos passar aqui o dia a enumerá-los e a dissecá-los e concerteza seria interessante, mas como não quero entrar em spoilers, prefiro deixar aqui a minha recomendação máxima para os verem logo que possam.

Só para terminar, ONIBABA é um espírito que pertence ao rico folclore japonês que é representado por uma mulher velha e KURONEKO é um gato preto que rouba os espíritos daqueles que morrem injustiçados para os vingarem para além da morte. E se isto tudo não serviu como incentivo para verem estes filmes, não se considerem fãs de cinema de terror. Pronto.