Mondo Trasho

terça-feira, 3 de novembro de 2009


Cumprindo com a minha promessa, continuo com a minha viagem cronológica através da filmografia (a meu ver essencial) do realizador de culto, John Waters. Hoje atacamos a sua primeira longa-metragem, MONDO TRASHO. Ou será que é ela que nos ataca? Continuemos.

E não é que somos logo atacados desde o início? Vegetarianos, previnam-se: as primeiras imagens deste filme muito low budget são as de um homem a matar uma galinha com machadadas no pescoço. Oh, yeah. Qual a intenção senão a de chocar o espectador logo à entrada, não sabemos, mas o que é certo é que esta cena não tem nada a ver com o resto do filme e nós nunca mais pomos os olhos em cima deste personagem até ao fim dos pouco mais de 60 minutos que compõem esta primeira incursão de Waters nas longa-metragens (há quem diga que esse homem é o próprio Waters).

Quanto ao enredo, não me perguntem sobre o que é, ou que mensagem está a ser transmitida. Na minha memória (é que já não o vejo há um tempinho), MONDO TRASHO não passa de uma colecção de vinhetas, sem grande ligação entre si, a não ser a de conterem cenas eventualmente trash, camp e chocantes. Há, no entanto, sempre uma urgência em filmar as coisas mais escabrosas e o lado humano mais pervertido. Sempre através da perspectiva de um menino que acabou de entrar numa loja de guloseimas, claro está. Waters adora estes personagens sui generis com comportamentos fora da norma e celebra-os filme após filme com cada vez mais candura.

Divine está lá também, gorda e imensa no seu carisma de superstar underground, assim como a perene Mink Stole. E se já viram outros filmes de Waters já sabem com o que esperar: nudez, roupas berrantes, momentos erótico-grotescos, representações exacerbadas de mau-gosto e personagens obsessivas e obsecadas. De resto, posso dizer-vos também que o filme foi filmado num preto e branco muito granulento e que é mudo. Sim, mudo. Isto porque Waters não tinha dinheiro suficiente para filmar com som. No entanto, somos presenteados com um patchwork de músicas e canções escolhidas a dedo por Waters para dar cor e vida ao filme. E esta é também uma das razões principais pela qual este filme ainda não teve direito a um relançamento em DVD. Como eu tinha dito, o dinheiro era pouco e Waters não pagou os direitos de autor. Claro. Diz ele em sua defesa que nem sequer sabia que isso era preciso fazer. Ok.

Bem, o que é certo, é que se o quiserem ver, vão ter que recorrer a outros sites que não a Amazon para o comprar, se é que me fiz entender. Ah, e quase me esquecia: o filme chama-se assim porque, na altura, estavam muito em voga os filmes-documentário MONDO, assim denominados por Gualtiero e Jacopetti, os senhores responsáveis pelo fenómeno MONDO CANE. Cá por mim, e se me perguntarem, acho MONDO TRASHO bem. Muito bem, até. Vejam-no e digam depois de vossa justiça.