The Boxer's Omen

segunda-feira, 22 de março de 2010


Por vezes ser-se cinéfilo tem destas coisas: a busca por filmes tão excitantes quanto bizarros leva-nos a procurá-los em tudo que é canto escuro de um qualquer género por explorar, a levantar esta ou aquela pedra à espera de encontrar lá por baixo algum tesouro escondido (ou verme a evitar...), enfim, numa constante procura de algo que nos mate a dependência por mais, sempre mais.

E, às vezes, sem precisarmos de muito procurar, o destino deixa-nos à porta algo que nem sabiamos existir, mas que nunca iremos esquecer. Isto tudo para dizer o quê: que o meu conhecimento da filmografia dos Shaw Brothers (tão celebrada por Tarantino, principalmente no par KILL BILL) era muito limitada até agora, facto esse que estou a tentat colmatar com toda a urgência, porque se, como eu, pensavam que os filmes dessa lendária produtora de Hong Kong não iam além das artes marciais, estão (estava eu, também) muito enganadinhos.

O filme que despoletou toda esta viragem na minha bússola cinéfila é o que vos trago aqui hoje: THE BOXER'S OMEN. Realizado por um tal de Kuei Chih Hung (alguém cuja filmografia vou ter de esmiuçar e muito bem, porque as maravilhas são muitas e aterradoramente excitantes), começo já por dizer que este filme não é para estômagos fracos, contendo cenas antológicas de revulsão cinematográfica capaz de rivalizar com qualquer coisa que já tenham visto. Eu confesso que tive que desviar o olhar em algumas cenas para aguentar o que tinha acabado de comer na barriga... Está, no entanto, filmado com tal formalismo de composição e com tantas cores garridas que se torna difícil afastar os olhos de tal espectáculo de Grand Guignol.

A história envolve magia branca, magia negra, monges budistas tailandeses, reencarnação, tarântulas, cobras, crocodilos, larvas, galinhas, nudez gratuita, lutas de boxe muay thai, efeitos especiais manhosos, pústulas explosivas, bruxas, viagens de avião, de barco, enfim, o equivalente àquela expressão inglesa, "throw everything in it and the kitchen sink"! Como vêem, há de tudo neste verdadeiro OVNI cinematográfico. Por vezes, temos a sensação que o realizador se aproveita da história para nos chocar sem grande fundamento, a não ser o de chocar pelo choque em si. Eu, por mim, nunca me importei grandemente com isto, desde que o choque seja bom. E olhem que não faltam. Uma das cenas mais infames deste THE BOXER'S OMEN envolve três feiticeiros que vão tentar ressuscitar uma bruxa e que, para isso, vão comer larvas, cascas de bananas podres, um ânus de uma galinha (!) e regurgitar isto tudo, passando de uns para os outros e voltando a comer e regurgitar (eww...., eu sei...) e, por fim, dar de comer à pobre da bruxa para ela voltar à vida. E olhem que aqui não há efeitos especiais...

Para grandes aventureiros, altamente recomendável. Para os outros, menos aventureiros mas que ainda assim estejam curiosos - tomem primeiro uma pastilhinha contra o enjôo...