Filme do dia: Multiple Maniacs

sexta-feira, 19 de março de 2010


Eu raramente falto ao meu prometido e tenho por norma cumprir sempre diligentemente as minhas obrigações. Na medida do possível, claro. Como tal, aqui estou eu a falar-vos de mais um filme do deliciosamente escabroso John Waters, desta feita sobre o seu último filme a preto e branco: MULTIPLE MANIACS.

Como também prometido, seguimos cronologicamente a carreira deste realizador americano e, logo à partida, MULTIPLE MANIACS surge-nos como uma ponte entre a primeira experiência de Waters na realização de longas-metragens - MONDO TRASHO - e o que ainda hoje é considerada a sua magnum opus – PINK FLAMINGOS. Encaixadinho entre os dois, MULTIPLE MANIACS mostra-nos um Waters mais à vontade com o seu meio de expressão artística de eleição (as técnicas por si usadas já não se sentem tão rudimentares como em anteriores esforços) e também mais em sintonia com o “meio ambiente” em que as suas personagens marginais se inserem (caso não saibam, Waters nasceu no seio de uma família perfeitamente normal e conservadora, mas cedo sentiu a atracção por tudo que era anormal e provocador, por assim dizer).

Assim sendo, MULTIPLE MANIACS assume-se logo à partida como um filme no mínimo provocador e ultrajante no seu melhor. Não querendo cair em spoilers, posso no entanto dizer que este filme é como sentarmos a uma mesa onde nos é servido um banquete onde os pratos competem entre si em bizarria e mau-gosto, passando a expressão (Waters é hoje apontado como um dos supremos especialistas em “bom” mau-gosto). Desde Divine, o seu parceiro no crime desde o início das suas aventuras no cinema, ser violado e posteriormente visitado pela Criança de Praga que o leva a uma Igreja onde Mink Stole, outra das suas eternas parceiras no crime, lhe dá consolo espiritual e sexual na forma de um “rosary-job” (vejam para crerem, porque eu cá não explico!), até ao ataque de um monstro que se dá pelo nome de Lobstora e a um espectáculo que se auto-denomina como Cavalcade of Perversions, há de tudo neste MULTIPLE MANIACS.

É tido por alguns fãs como o mais chocante filme de Waters, precisamente porque junta o lado perverso e fetichista do ser humano e o contrapõe com ideias e imagens altamente religiosas num cocktail molotov visual e ideológico que corrompe irremediavelmente qualquer mente burguesa. A ver obrigatoriamente, então.