Top 10 filmes: um Musical fora do normal

quinta-feira, 11 de março de 2010


Este Top é inspirado por duas provocações: a primeira, feita por um certo membro deste blog que me anda a azucrinar a cabeça para expandir os meus Tops para o dobro dos que eu normalmente faço; a segunda, por esse certo membro, assim como mais de metade dos cinéfilos espalhados por todo o mundo, teimar em achar que o género musical é menosprezado de uma maneira perfeitamente válida, ou seja, porque não presta. Só tenho uma coisa a dizer em relação a isto tudo: não me provoquem. Aqui seguem 10 razões para tal.

10º: Can't Stop the Music de Nancy Walker

"Um filme com a história dos Village People como enredo? Mas quem é que se lembrou de tal abominação?!", gritam as mobes. Pois não só este filme existe como é muito divertido também! E o factor kitsch de ter os verdadeiros Village People a representarem-se a si mesmos numa história altamente fantasiosa e muito longe da verdadeira realidade da coisa (eles "nasceram" num casting e não porque eram amigos e decidiram fazer uma banda), só ajuda ao entretenimento geral. Ah, esqueci de avisá-los: este Top tem como ponto de partida a bizarria de certos musicais, o que quer dizer que daqui para a frente, o nível sobe. Considerem-se avisados.


9º: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band de Michael Schultz

Antes de Julie Taymor espantar a crítica e deliciar os cinéfilos com a sua ode à música dos Beatles - ACROSS THE UNIVERSE - já tinha havido uma tentativa de fazer o mesmo, embora com menos sucesso. Se conseguirem imaginar os Bee Gees a fazerem de Beatles com o Peter Frampton para lá a cantar como se não houvesse amanhã, então estão no caminho certo para compreenderem o quão bizarro este filme poderá ser. Um fracasso na altura da sua estreia, é agora uma pérola do trash.


8º: Little Shop of Horrors de Frank Oz

Este filme costumava ocupar lugar cativo em muitas mattinées da RTP1 quando eu era miúdo. E ainda agora o adoro! Baseado num filme de 1960 de Roger Corman (filmado em 2 dias, segundo reza a lenda), foi revitalizado nos anos 80 pelo mesmo realizador do clássico DARK CRYSTAL (o tal com bonecos de Jim Henson) e transformado num musical de culto que agora enche palcos e plateias de todo o mundo, depois da sua adaptação à Broadway. Conta a história de uma planta carnívora, a Audrey, que de tanto comer e comer, vai crescer e crescer até se tornar uma planta gigante e... omnívora! Ah!, e as músicas são deliciosas, passando a expressão...


7º: The First Nudie Musical de Mark Haggard e Bruce Kimmel

Ok, este dispensa explicações. "Um musical nudista? Mas aonde é que o mundo irá parar?", perguntam-se vocês e muito bem. Reparem que ainda só vamos no sétimo lugar...


6º ex-aequo: Velvet Goldmine de Todd Haynes e Hedwig and the Angry Inch de John Cameron Mitchell


Por alguma razão este dois filmes pertencem juntos. Pelo menos, na minha cabeça. Não os consigo dissociar, mesmo que queira! Talvez tenha a ver com o facto de ambos terem saído mais ou menos na mesma altura e talvez tenha também a ver com o facto de ambos serem basicamente acerca do mesmo tipo de música e de a androginia ter um dos papéis mais importantes nos dois enredos. Para ser muito sincero, ia-me custar e muito ter que decidir qual dos dois é o meu favorito. Ou o mais bizarro. Daí o empate.

5º: Alferd Packer: the Musical a.k.a. Cannibal the Musical de Trey Parker

Eu avisei que o nível de bizarria iria aumentar, não avisei? Então levem lá com este musical canibal nascido da torpe imaginação do criador de SOUTH PARK. Apadrinhado pela Troma logo à saída, é hoje em dia um monumento ao mau gosto e ao entretenimento trash. Aparentemente, inspirado em factos reais. NOT! Olhem só para a tagline: "All Singing! All Dancing! All Flesh Eating!". Não vos dá vontade de vê-lo já, já a seguir?


4º ex-aequo: Phantom of the Paradise de Brian De Palma e The Rocky Horror Picture Show de Jim Sharman


Outros dois filmes que não consigo dissociar e que tornam para mim dificílima a tarefa de ter que escolher qual é o mais bizarro de entre os dois. Haverá quem diga que o primeiro - o PHANTOM - é o melhor dos dois, mas isso é para retirar o universal mediatismo que o segundo - o ROCKY HORROR - ganhou nestes anos todos. No meu coração, os dois estão em pé de igualdade. E pronto.


3º: Forbidden Zone de Richard Elfman

Chegados que estamos ao Top 3, as coisas têm obrigação de aquecer. Este delírio nascido da mente de Richard Elfman (sim, é o irmão do famoso Danny que aqui representa o papel do Diabo, nem mais), é suficiente para fazer qualquer um tremer de medo perante tal espectáculo de proporções gargantuanas de bizarria. Qualquer coisa como algo entre um cartoon dos irmãos Fleischer e um sonho que um anão poderia ter se um dia fosse rei do submundo e casado com uma ninfomaníaca dada a excessos pantagruelescos de comida e de sexo. Bi-za-rro.


2º: Tommy de Ken Russell

Ainda hoje dos delírios mais excessivos jamais cometidos em celulóide, este filme do excêntrico Russell continua a surpreender e fascinar quem o vê. E olhem que é preciso coragem para o ver: pessoas com alta fotossensibilidade, fujam dele! TOMMY é um ataque constante de cores garridas e de sensações visuais extremas. Isto é MTV 10 anos antes dela nascer. Ah!, e não há diálogos. Todo ele é cantado, seguindo à letra a sua matriz original: a famosa ópera rock dos The Who. Mas agora fica uma dúvida - se esta loucura cinematográfica não está em primeiro lugar, então que outro terror estará? E a resposta é...


1º: Lisztomania de Ken Russell

Na altura publicitado como o filme que "out-Tommy's Tommy", esta... "obra" levemente baseada na vida de Franz Liszt ainda hoje é considerada pelo seu protagonista (Roger Daltrey, o vocalista dos The Who, novamente nas mãos de Russell depois do enorme sucesso de TOMMY) como algo entre o embaraçoso e o insano. De facto, este... "filme" consegue ser ainda mais bizarro do que o já suficientemente estranho TOMMY, o que de si só é uma proeza. Russell estava a atravessar a sua fase mais criativa e este é o resultado que acontece quando se dá carta branca a um realizador do seu calibre. Incompreensão quase universal por parte do público que esperava um segundo TOMMY e chacina total por parte dos críticos que estavam à espera que Russell pusesse o pé na poça. Eu, por mim, sou um dos mais acérrimos defensores do filme e por alguma razão ele está no primeiro lugar deste Top. Eu já uma vez disse que, se algum dia tivesse que escrever uma crítica desta... "longa-metragem" teria que estar muito inspirado para fazer juz à sua insanidade sem fronteiras. Senão, vejam: um filme que tenha o Ringo Starr a fazer de Papa, uma astronave fálica com musas a servirem de jactos propulsores, um Wagner vampiro que se serve da música de Liszt para fazer sucesso e que mais tarde irá criar um über-mensch que mais parece o Astérix, morrendo de seguida devido a um exorcismo feito por Liszt usando um piano giratório bota-fogo e ressuscitando como uma figura hitleriana que vai matar tudo que é judeu...? Haja imaginação! E boa-vontade por parte dos espectadores. Eu cá não me canso destas loucuras...!