Clash of the Titans (2010)

quinta-feira, 22 de abril de 2010



Há filmes que facilitam tanto a tarefa das maledicências que quase que se torna desumano descambar neles. CLASH OF THE TITANS (o recente remake em 3-D) é a vítima de hoje. Preparados para o massacre? Então, aqui vamos nós.

1º: o 3-D
Começo já por avisar que não vou estar aqui a armar-me ao pangaio e a criticar vitriolicamente um filme só porque veio de Hollywood e porque é mau (cada vez mais sinónimos hoje em dia). Não, eu não jogo nessa equipa. Para terem uma ideia, os últimos filmes que vi recentemente foram LES DIABOLIQUES de Henri-Georges Clouzot e TARKAN VERSUS THE VIKINGS de Mehmet Aslan, um sublime épico trash da Turquia. Na minha mesa, nenhum prato é interdito. Agora, que alguns são indigestos, ah! isso são.

Quando o ALICE IN WONDERLAND saiu para as salas, houve quem dissesse que pouco se notava os efeitos tridimensionais da coisa. Que o 3-D não passa de um gimmick, de um truque para fazer as pessoas gastarem mais dinheiro. Dah... É claro que é e preparem-se para abrir os cordões à bolsa nos próximos meses, porque de Hollywood agora só vem disso. Vai chegar o dia em que vamos ver uma comédia da Meryl Streep nesse formato. Vai uma aposta? Mas eu divago e deixa-me mas é pôr em escrito aquilo que penso sobre o CLASH OF THE TITANS senão esqueço-me, tão vápido é o seu poder.



Os créditos iniciais e finais são bonitos e justificam os óculos. E ficamos por aqui.


2º: Sam Worthington

Eu percebo porque é que este actor australiano está a causar grande furor. É o novo herói do proletariado. O bronco com charme. O moçoilo de bons princípios com uma história de sucesso. O action-hero para suceder ao trono ausente de um Vin Diesel ou de um Jason Statham. E que está a ter a sorte de trabalhar com grandes nomes. E olhem que ele até se esforça neste filme. A história também ajuda. O argumento é que não. O seu Perseu (ou "Persu" como teimam em traduzir naquelas ignóbeis legendas amarelas em 3-D!) é o herói clássico da mitologia grega, mas aqui pintam-no muito de verde inconstante, um tom que não lhe fica nada bem à cor da pele. Mas lá que o homem fica muito bem de saiote, ai isso fica. E que se sai muito bem a jogar no mesmo campo que certos pesos-pesados como Liam Neeson e Ralph Fiennes, ai isso sai-se. Menos teatro e mais honestidade, parece ser o mote do Sr. Worthington. E essa é uma das maiores falhas do filme: a má representação e a excessiva teatralidade (leia-se, grandes palavras acompanhadas por grande gesticulação) da maior parte dos actores.

Mas isto não é propriamente Shakespeare, diz e muito bem o leitor. E eu concordo. Mas eu tenho os meus limites. O que me leva ao ponto seguinte.



3º: a SDD

Ok, quem vai ver um filme destes, tem que possuir um nível elevado de SDD (suspensão da descrença). Senão vejamos: é passado na Grécia Antiga, os actores falam todos em inglês e com sotaques diferentes, mete deuses mitológicos com forma humana que se vestem, andam e falam todos em inglês com sotaques diferentes, há uma descida ao submundo onde fazem a travessia do Rio Styx a bordo do famigerado barco do Caronte, há cavalos alados e crustáceos gigantes e, last but not least, serôdios guerreiros feiticeiros com pele de carvalho e olhos azuis LED. Juro que não estou a inventar nem um bocadinho. E o Kraken que, para quem viu o trailer, dispensa explicações.

Só que este nível elevado de SDD é levado a extremos quando nos vemos confrontados com aquele eterno dilema que surge quando as lutas são tão rápidas que quase perdemos de vista quem são os bons e os maus da fita, passando o trocadilho. Ou será que é só para nos fazer distrair dos efeitos especiais manhosos? E da má montagem? Tal como o significado da Vida, este dilema nunca será resolvido satisfatoriamente.