Quando começaram a aparecer os novos filmes 3D eu julgava, inocentemente, que no cinema ia usar daqueles óculos com uma lente azul e outra vermelha. Estava nostálgica, não dos filmes que nunca vi com esses óculos, mas dos livros de dinossauros ou da Disney que tinham essa gracinha.
Foi com muita supresa que recebi uns óculos à Roy Orbison, mas parabólicos. Vi Monsters vs. Aliens, com os óculos sempre a subir-me para as sobrancelhas de cada vez que sorria.
À segunda vez no 3D vi Avatar. Desta vez os óculos não eram oferecidos - ainda bem, sem desperício - mas pesados como o raio. No final do filme não só estava com dor de cabeça devido ao 3D como estava com um sulco na cana do nariz. Ouch.
No filme Avatar os problemas do 3D eram evidentes demais. É muita coisa desfocada. Em animação não se liga muito, em live action sim... 3D não funciona com imagem real. A suposta tridimensionalidade é conseguida com profundidade de planos. Ou melhor, a personagem da frente é plana, mas tem profundidade para a personagem de trás, que também é plana como uma folha de papel, mas dista da parede atrás dela.
Esta técina das folhas de papel foi usada pela primeira vez há muitos anos numa animação da Betty Boop, mas ao passo que nessa animação o efeito é realmente inovador e parece tridimensional, nos dias de hoje - tendo em conta os recursos e o nível de qualidade que é exigido pelos espectadores em geral - não é aceitável que o 3D sejam folhas de papel sobrepostas. Até porque não são folhas de papel, mas parecem mesmo ser.
Outra coisa que me faz confusão é o preço dos bilhetes. Correcção - o preço dos bilheites é aceitável, não percebo é o propósito de transformar um filme 2D num 3D (como Clash of the Titans ou Avatar: the Last Airbender). Se for para aumentar a espectacularidade então boa sorte nisso. Se for para fazer mais dinheiro, então funciona.
3D na animação funciona. A sério, e sou completamente a favor das cenas em que parece que alguma coisa é arremessada ao espectador só pela piada disso. Acredito e espero que haja muitos e bons filmes de animação em 3D. Mas mesmo na animação o 3D não é necessáriamente o futuro. Após o filme Toy Story começou tudo a ser em CGI. A Disney, ao lançar em 2004 o filme em animação tradicional Home on the Range (o das vacas), anunciou que esse seria o último, sendo que nessa altura a maioria das suas animações já eram em CGI. Cinco anos depois volta ao desenho em papel com The Princess and the Frog.
Isto sem falar dos filmes do Miyazaki ou outros de animação tradicional que foram estreando, em que mesmo que o desenho não seja por aí além (Persépolis, p.ex.) a recepção é boa, independentemente dos gimmicks que os filmes não tenham.
Por isso o 3D não é o futuro. O 3D actual é uma coisa nova que pode ser muito bem aproveitada, mas não vai ser tudo em 3D. Não vai ser como o som ou a cor. O 3D é um side-show.
Este post deve-se a eu (e todos nós, imagino) estar constantemente a ouvir que o 3D é o futuro do cinema. Não é. Tinha que pôr cá para fora.
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