The Hourglass Sanatorium

domingo, 16 de maio de 2010


Se pensam que só nos blockbusters é que nos podemos dar ao luxo (e ao direito!) de desligarmos o cérebro por 2 horas, enganam-se redondamente. E este post de hoje é dedicado àqueles que pensam que o cinema de autor é uma seca. E que é inconcebível alguma vez pagarem o preço de um DVD por um filme obscuro feito na Polónia nos anos 70. Sejam bem-vindos então ao tema de hoje: THE HOURGLASS SANATORIUM do realizador polaco Wojciech Has.

Adaptado de um livro da autoria de Brüno Schulz, THE HOURGLASS SANATORIUM é uma procissão fantasmagórica, um carnaval surrealista, um sonho febril tornado celulóide. Isto é a mesma coisa que dizermos: "um filme do camandro". Pelo menos para mim. Eu vivo para estes momentos, o encontrar filmes que me levem a viagens interiores como só a leitura de um bom livro ou a audição de um bom concerto de música clássica conseguem fazer. E como o Cinema é a junção de todas as artes (Glauber Rocha tinha toda a razão quando disse que o Cinema era a mais completa das artes), a experiência é pois total e absorvente.

Não há neste HOURGLASS SANATORIUM um fio condutor. A única coisa que sabemos é que o personagem principal vai visitar o seu pai moribundo ao titular sanatório e que o senhor ainda não se finou porque os médicos lá aperfeiçoaram a técnica de atrasar o tempo. Isso mesmo. Adia-se a morte nesta casa. E não só se atrasa o tempo, como também se o retrocede. E o nosso herói vai se tornar elemento partipante nas reminiscências do seu progenitor, por vezes com perigo de morte e tudo. Mas isto que vos estou aqui a explicar é quase imperceptível no filme, visto que a "narrativa" é uma sucessão de cenas interligadas sem qualquer fio condutor, tal como tinha dito acima. E é aqui que vos perco,não é? Pois bem, caro leitor: se gostam de sonhar, também irão gostar deste filme. Porque é disso mesmo que se trata, de contar uma história seguindo a lógica ilógica dos sonhos. E de se deixar navegar nas ondas de um rio com muitas bifurcações.

Has já o tinha tentado antes com o magnífico THE SARAGOSSA MANUSCRIPT e com muito sucesso, mas para mim supera-o com este HOURGLASS SANATORIUM (esta opinião não é lá muito partilhada pelos grandes críticos de cinema que consideram o primeiro bem melhor do que o segundo; mas o que é que eles sabem, anyway?). E depois temos uma fotografia fenomenal e uns valores de produção soberbos. O que há mais para se dizer? É surrealismo polaco no seu melhor. Fiquem com a minha cena favorita deste genial filme.