L' Enfer de Henri-Georges Clouzot

sexta-feira, 14 de maio de 2010


Recomendo vivamente este documentário de Serge Bromberg,um francês que tem dado cartas na área de recuperação e restauro de filmes esquecidos, sobre um filme inacabado: L' ENFER do igualmente gálico Henri-Georges Clouzot, o único realizador que metia medo a Hitchcock (a nível profissional, isto é, visto que Clouzot percebia como poucos com que linhas se cosia o thriller).

L' ENFER iria ser (comecemos por acreditar que sim, embora nunca o saibamos) a obra máxima de Clouzot, o seu filme de referência, aquele que iria provar de uma vez por todas que estariamos perante um realizador genial. Com um budget ilimitado por parte da americana Columbia, Clouzot teve então carta branca para dar azo ao mais pequeno dos seus caprichos. E estes não eram poucos, como depressa se viu. Serge Reggiani, o actor principal, cedo se viu à nora com o temperamento lendariamente irascível do realizador. O seu afastamento das filmagens foi um dos factores responsáveis pelo abortar das filmagens. Já pelo contrário, Romy Schneider, a actriz principal, entrega-se a Clouzot como nunca o tinha feito a nenhum outro realizador até à altura e as filmagens que restam provam isso mesmo.

E são exactamente essas filmagens que ficaram sem ver a luz do dia durante mais de 35 anos (até ao dia em que Bromberg fica preso durante 2 horas num elevador juntamente com a viúva de Clouzot e esta lhe pede para ele fazer alguma coisa com elas) que são o objecto deste documentário e a prova fascinante de que Clouzot estava a experimentar coisas tão novas que, caso se completasse o filme, este iria tornar-se o seu 8 1/2, o seu VERTIGO, o seu CITIZEN KANE. Uma história de obsessão e de ciúmes doentios como até então nunca se tinha visto, ficam para a posteridade horas e horas de filme rodado e uma Romy Schneider luminosa e fascinante. E um "talvez" e um "e se" quase insuportáveis tal é o tamanho da dúvida que resta.

Clouzot iria mais tarde voltar a este tema e às técnicas que estava a experimentar com LA PRISONNIÈRE, mas o momento tinha-se perdido e já não era mais novidade. Hèlas.