Io sono l'Amore

domingo, 6 de junho de 2010



IO SONO L'AMORE não é um filme. É um evento. Se eu fosse jornalista da revista EMPIRE, a minha crítica seria algo do género: "I AM LOVE is like an offspring of Flaubert's Madame Bovary and Lampedusa's Il Gattopardo with Visconti on the director chair and Bertolucci as his assistant. It's that effing good."

E por muito que esta descrição pareça simplista ou até simplória (cada vez mais detesto comparações destinadas a atrair a atenção de pessoas com défices de atenção reduzidos), não seria de todo descabida. Realmente, IO SONO L'AMORE vai beber inspiração a esses dois grandes romances, tanto no caso da infidelidade da senhora casada que já não tem grande acção no seu leito matrimonial há algum tempo (se a comida em casa rareia, come-se fora, tá-se mesmo a ver), como na atenção a que se é dada à família como núcleo fundamental e pedra angular de tudo que daí advém, seja isso o status quo ou a estabilidade financeira. E subentendida nesta história de uma família italiana da alta burguesia onde palavras como "criadagem", "patriarca" e "património" são chave para entendermos a trama, está a frase charneira do romance de Lampedusa: "É preciso que tudo mude para que tudo permaneça na mesma".



Pelo meio, temos uma cintilante Tilda Swinton que dá corpo e alma a este sumptuoso filme que é ajudado em grande parte pela não menos assombrosa banda-sonora do minimalista John Adams que empresta pathos ao filme de uma maneira paradoxalmente épica. Swinton, aliás, serve também como produtora executiva deste filme, um projecto que o seu realizador, Luca Guadagnino, demorou cerca de dez anos a parir.

E não há muito mais a dizer a não ser "Vejam com extrema urgência", porque estamos perante o renascer do grande cinema italiano de autor e ver IO SONO L'AMORE é sermos atacados em todas as frentes com um nível de cinefilia a que já não estavamos habituados e uma maneira de filmar que já pensavamos extinta. Ninguém, repito, ninguém faz aqueles movimentos de câmara como os italianos. É um bailado que nos deixa inebriados. E se acham que já estou a exagerar nos superlativos, então gastem lá os 5 euritos que vão ser dos mais bem empregues dos últimos tempos. Seguramente.



Quanto ao título, há uma cena chave no filme que o explica e o valida. Porque é de Amor que se trata este filme. Daquele que é todo avassalador. Como deveriam ser todos, aliás. Pelo menos, uma vez.