Il Casanova di Fellini

domingo, 14 de novembro de 2010



Devo admitir que quando este filme foi anunciado para lançamento em formato Blu-Ray em terras francesas já lá vai para dois anos, fiquei roidinho de inveja. Primeiro: ainda não tinha feito o upgrade para o HD (nem TV tinha, quanto mais leitor...); segundo: é o meu filme de Fellini favorito e angustiava-me saber que aquelas imagens gloriosas que o Mestre criou a partir das lendárias Memórias de Casanova estavam agora melhor do que nunca, com as suas cores garridas e cenários barrocos bem ao estilo italiano.

Hoje, posso dizer que este foi um dos filmes que me fez alargar os cordões à bolsa (por outras palavras, comprei uma TV HD e respectivo leitor Blu-Ray) para assim o poder ver na melhor qualidade possível, fazendo assim jús a todo o talento envolvido na produção desta obra-prima.

Embora este filme seja mal-amado, até pelos fãs mais acérrimos de Fellini, é para mim um pecado que não seja mais e melhor conhecido por todos os cinéfilos por esse mundo fora. Senão vejamos: fotografia a cargo do grande Giuseppe Rottuno, cenários do mítico Dante Ferretti, uma banda-sonora que tem tanto de bela como de mágica do lendário Nino Rota e Donald Sutherland no papel de Giacomo Casanova, o veneziano que fascinou e continua a fascinar toda uma geração de historiadores e sexólogos. As cartas estão na mesa e o jogo, como se pode prever, é infalível.

Em sua defesa, tenho a dizer que se não encararmos o cinema narrativo como o alfa e o omega da 7ª Arte a nível da construção de um argumento, então estamos no bom caminho para melhor compreendermos o fascínio deste filme. Fellini já em SATYRICON estava a caminhar para uma espécie de cinema episódico (algo que ainda hoje é visto de maneira negativa e não como algo profundamente criativo e fora da norma, sempre a marca de qualquer grande autor/criador) e ele leva essa mesma matriz para o seu CASANOVA, que mais não são do que retalhos da sua vida cosidos com a mais invisível das linhas. As elipses são constantes e sem sobre-aviso, o que só ajuda ao onirismo da obra. Porque é exactamente isso que este filme é (pelo menos, a meu ver): as recordações de um velho mulherengo a quem a vida até lhe correu bem e de quem a sua fama sempre lhe precedeu e o fez viajar por meio mundo e conhecer outro tanto.

Resultado: por vezes, parece que estamos a visitar um museu de figuras de cera dedicado à sua vida, onde tudo é artificial e propositadamente assim. Fellini não esconde que tudo isto poderão ser os devaneios de um velho louco, que não sabe no ridículo que caiu. Durante estas festividades, somos regalados com imagens extraordinárias em catadupa, num acumular de sensações visuais que roçam o barroco, visto que a sua única função é a própria acumulação em si.

Eu cá não me canso destas coisas, por isso aqui fica a minha mais alta recomendação para (re)descobrirem este filme.