Horrors of Malformed Men

quarta-feira, 13 de maio de 2009


Podem não acreditar, mas este filme ainda hoje se encontra banido no Japão. Não passa nas salas de cinema e não é vendido em qualquer formato home video. Agradeçam pois à editora americana Synapse Films por ter tido o bom senso de lançar esta preciosidade em DVD. O porquê de estar banido saberão mais à frente.

Outra curiosidade em relação a este filme é que, de certo modo, tem ligação a Edgar Allan Poe, fazendo assim correspondência com outros dois filmes por mim abaixo referidos: HISTOIRES EXTRAORDINAIRES (Poe) e BOHACHI BUSHIDO (Teruo Ishii, que também assina a realização deste filme). Continuemos assim a celebrar os 200 anos do nascimento de Poe em todas as suas vertentes e influências. É que vale mesmo a pena, como verão.

Ora, a razão principal de este particular filme ainda se encontrar banido é muito simples: está carregadinho de imagens grotescas de seres disformes e mutilados, o que fez imediatamente relembrar memórias ainda muito vivas dos resultados macabros provocados pela bomba atómica. Se juntarmos a isso cenas de uma sexualidade bastante questionável (o Ero-gro, uma junção de Erotismo com Grotesco ainda hoje muito em voga para aquelas bandas), misturadas com estranhos rituais inspirados nos espectáculos butoh, não será de espantar que muitas pessoas se tenham levantado a meio do filme, completamente aviltadas com o que estavam a ver.

Para os nossos olhos ocidentais, este filme não passará de um freak-show como qualquer outro, mas é completamente compreensível que ainda hoje hajam pessoas que levem estas coisas muito a sério.

A ligação com Edgar Allan Poe é ainda mais curiosa. HORRORS OF MALFORMED MEN é livremente adaptado de várias histórias de um autor muito famoso no Japão que dá pelo nome de Edogawa Rampo. Agora imaginem-se japoneses e tentem pronunciar Edgar Allan Poe. Ora aí está. EDOGAWA RAMPO. Podem-se rir à vontade, porque eu também estou! Surreais, estes japoneses.

Teruo Ishii referiu-se a este filme como a sua obra-chave e não é difícil de perceber porquê mal o acabamos de ver. Estamos perante um filme visualmente delirante, com um imaginário febril e uma sucessão de enredos que se cruzam e entre-cruzam provocando no espectador uma sensação de desatino e desorientação constante. E depois, ainda vive sob o estigma do "filme proibido" (sim, eles ainda os há em pleno século XXI e eu vou tratar da sua saúde aqui no Maus da Fita, um a um; tudo a seu tempo), o que o torna logo um objecto de culto altamente cobiçado.

Aventurem-se.