Memories of Matsuko

sábado, 22 de agosto de 2009


Lembram-se de eu vos ter falado de um filme que quase tinha vergonha de admitir que gostava à brava embora este fosse direccionado para o mercado feminino? Pois, esse mesmo: o KAMIKAZE GIRLS de Tetsuya Nakashima. Ora, o que é certo é que eu gosto tanto desse filme que resolvi investigar o trabalho desse realizador, dono de uma estética pop ímpar no mundo do cinema. Essa busca levou-me a este MEMORIES OF MATSUKO e é dele que vou falar agora.

Embora não goste de começar por falar de um filme com comparações óbvias e preguiçosas, MEMORIES OF MATSUKO é como se Baz Luhrmann tivesse pegado num guião de Frank Capra e o realizasse no Japão com actores japoneses. Isto quer dizer o quê: quer dizer que o estilo de Nakashima está aqui em todo o seu esplendor visual, estilo esse que em seguida foi aplicado a uma história cheia de humanismo e de valores nobres. No Japão, claro está, o que só ajuda à singularidade da trama.

E o objectivo define-se como épico desde o início, com créditos a fazer lembrar o GONE WITH THE WIND, o que não é de todo descabido visto que estamos perante uma história onde o principal papel é feminino e acerca de uma mulher com um espírito indomável e uma perseverança única, a lembrar a mítica Scarlett O'Hara. O desfecho é que é menos feliz, com um travo agridoce que custa a sair, mesmo após terem passados vários dias da sua visualização. Nakashima deu tudo de si e praticamente não fez concessões (a duração desta pequena maravilha é de 130 minutos) e exigiu o mesmo dos actores, o que é bem visível nas imagens. Em especial destaque está a heroína, Miki Nakatani que aqui desempenha um papel digno de uma nomeação aos Óscar. Não, não estou a brincar. Ela brilha desde o início e o seu arco interpretativo é de tal forma multifacetado que quase nos parece que estamos perante uma máquina de representar e não um actor.

Sem fazer spoilers, posso dizer-vos que o tema principal deste filme é o amor-próprio ou a falta dele, assim como a busca desse mesmo sentimento nas outras pessoas e todas as cabeçadas e lições da vida que daí advêm. Há muitas situações onde nos podemos rever de uma forma ou de outra com o que acontece aos personagens. Um filme que cumpre o seu objectivo, então: alto entretenimento aliado à transmissão de uma mensagem. Como toda a grande arte deveria ser.

Altamente recomendável, como não seria de esperar.