Une femme est une femme

segunda-feira, 28 de setembro de 2009


Ok, antes de começar a falar sobre este filme de Jean-Luc Godard tenho que dizer o seguinte: eu acho que ele não passa de um poseur com a mania que sabe fazer cinema interessante e inteligente. Pronto, está dito. Posto isto, e sendo eu um gajo que sabe dar o braço a torcer quando acha que está a perder a razão, venho-vos aqui falar de um filme dele que vi recentemente e que me fez mudar um pouco a opinião que tinha dele.

Anna Karina, a sua musa nos filmes e na vida real, encarna aqui neste UNE FEMME EST UNE FEMME o seu primeiro papel para Godard e assina uma representação luminosa e totalmente fresca que nos enche de leveza e descontracção cada vez que a sua cara é apanhada pela objectiva cinemascope deste filme que anda à volta de um triângulo amoroso entre Karina, Belmondo e Jean-Claude Brialy. Corrijo: somos nós todos que andamos com a cabeça às voltas depois de termos visto este colorido e inusitado filme. Sim, porque Godard, fazendo jús ao epíteto de enfant terrible do cinema, desconstrói-nos o filme perante os nossos olhos sem nunca cair nos maneirismos que para mim estragam a maioria dos filmes que assinou.

Um dos pontos fortes de UNE FEMME EST UNE FEMME é a sua banda-sonora composta pelo grande Michel Legrand que, contrariando a tradição de compor uma memorável frase musical que servisse de tema ao filme, simplesmente opta por pontuar cenas-chave com estribilhos orquestrados de forma divina, diga-se de passagem. Fez-me lembrar a forma similar que Gato Barbieri e Jon Brion usaram para "vestirem" musicalmente LAST TANGO IN PARIS e PUNCH-DRUNK LOVE, respectivamente. São pequenas explosões de notas musicais que dão ênfase às cenas que as contêm, transformando-as em algo singularmente cinematográfico.

E pronto, aqui têm. Não escrevo muito mais porque já muita tinta se escreveu sobre o cinema de Godard e sobre este UNE FEMME EST UNE FEMME e, sinceramente, também não gostei do filme o suficiente para me achar capaz de acrescentar qualquer perspectiva revolucionária sobre ele. Mas gostei. E deu-me vontade de ver mais Godard (nem acredito que acabei de escrever isto...). À bientôt.