The Exorcist

terça-feira, 27 de outubro de 2009


Lembram-se daquele meu Top sobre os filmes que mais me perturbaram até hoje? Pois é, sou capaz de ter mentido um bocadinho, ou antes, não ter dito toda a verdade. Curiosos? É que há ainda um filme que continua a perturbar-me mais do que os outros todos juntos e basta mencionarem o seu nome que já parece que voltei a ser criança e com medo do escuro. Trata-se, é claro, do THE EXORCIST do realizador William Friedkin, como já devem ter reparado pelo título deste post.

Já muito se escreveu sobre este mítico filme de terror e não é minha intenção estar aqui a dissecá-lo mais uma vez, até porque isso não causaria nenhum interesse por parte do leitor e porque também quase que aposto que praticamente já toda a gente o viu, ou ouviu falar dele, ou sabe do que se trata. Vou, então, aproveitar este espaço para partilhar as minhas vivências e algumas das minhas memórias relacionadas com esta história de assustar que, aparentemente, foi baseada em factos reais.

Começando pelo princípio, lembro-me de o ter visto era ainda gaiato e de, na altura, ter causado em mim um impacto enorme, não só pela força das suas imagens e do talento demonstrado pelos seus actores, mas também devido a um factor preponderante para o sucesso e longevidade do filme: as coisas aqui são tratadas de maneira muito factual e muito séria. Contribuindo e muito também para o resultado final está o facto de eu ser cristão, o que ajuda e bastante ao choque provocado por certos actos e frases proferidas. O que é certo é que para mim, o escuro e a noite passaram a ter toda uma nova face e a partir daí fiquei com a consciência que há certas coisas que realmente mais vale deixá-las bem quietinhas a um canto não vá o diabo tecê-las.

Fast forward alguns anitos e, já nos meus vinte anos, peço emprestado a uns amigos o filme por eles gravado numa saudosa VHS a partir de uma emissão televisiva. Confiante da minha maturidade (cough, cough), lanço-me à fera com uma bravura própria dos ignorantes e para finalizar em grande, vejo o documentário por eles também gravado sobre o caso que inspirou directamente William Peter Blatty, o autor do livro a partir do qual o filme foi baseado. Em grande e à duro, como estão a ver. No dia a seguir, gabo-me aos donos da VHS acerca da minha sessão-dupla de fazer tremer qualquer fanático de cinema de terror. Espantados com o meu sangue-frio, despeço-me deles com a vaidade característica dos domadores de leões. O pior veio a seguir. O filme não me quis largar. E mesmo após uma semana volvida do seu visionamento, as imagens não me saíam da cabeça. O escuro voltou a fazer-me medo.

Foi mais ou menos por esta altura que Friedkin resolve revisitar esta sua obra-prima e lança um director’s cut que é distribuído para as salas de cinema de todo o mundo. É claro que eu, como cinéfilo inveterado, não podia deixar passar ao lado tal momento histórico. E, de mais a mais, confesso que queria ter a experiência de o ver juntamente com uma plateia e no grande ecrã. Comprado o bilhete, sento-me no meu lugar e começo a sentir a mesma sensação que se sente quando nos sentamos num carrinho da montanha-russa: vai meter medo e vai haver gritos, mas agora não há mesmo volta a dar. Digamos que a experiência valeu a pena só pela reacção de certos espectadores: lembro-me especialmente do casal que estava sentado mesmo ao meu lado onde, a certa altura, a rapariga solta um aflito e apavorado “Jesus Cristo!” enquanto o namorado se ri, mais para aliviar a tensão do que propriamente por real vontade de rir. Feitas as contas, o filme ainda retinha muito do seu poder de assustar e impressionar, apesar das mudanças de Friedkin a certas cenas e do final particularmente diferente.

Desde aí, só o vi mais uma ou outra vez, após o ter comprado numa caixa de DVDs que reúne todos os filmes da saga, assim como todas as versões até agora realizadas. Escusado será dizer que essa caixa só sai da prateleira em ocasiões em que me sinta particularmente dormente de sensações ou com ataques de Alzheimer cinematográfica (isto é, quando me esqueço do terror que irei sentir durante dias a fio após o seu visionamento).

Quando o filme saiu para as salas de cinema, houve alguém que disse que na película deste filme estava o “mal”. Assim mesmo. Cá para mim, essa pessoa é capaz de ter alguma razão.