Filme do dia: Grey Gardens

terça-feira, 17 de novembro de 2009


Há certos filmes que estão fadados para se tornarem objectos de culto. Este documentário feito pelos irmãos Maysles nos anos 70 é um desses casos. E o culto à volta de GREY GARDENS parece não ter fim: desde colecções de moda inspiradas nas originais ideias de Edie Beale (sobre ela, mais à frente), a livros, websites, blogs, um recente telefilme com Jessica Lange e Drew Barrymore nos principais papéis, e até um musical de sucesso da Broadway com direito a CD e tudo, o fascínio que a mãe e filha Beale projectam em quem as conhece é inesgotável.

Primas afastadas de Jacqueline Bouvier Kennedy, Edith e a sua mãe vivem uma vida também ela já muito longe dos seus tempos áureos de conviverem com a nata da sociedade americana. Restam-lhes as memórias, as roupas (já velhas e gastas), as muitas fotos, as promessas de uma vida de sonho que nunca se concretizará. E a casa, Grey Gardens. Decrépita e velha, com poucos móveis e num estado alarmante de degradação, a casa é também uma das personagens mais importantes deste documentário e também da vida destas duas carismáticas mulheres.

Mas o que é que torna a vida destas duas personagens assim tão interessante e digna de ser documentada? Para mim, é o seu espírito indomável, assim como o facto de a palavra “desistir” não pertencer ao seu vocabulário. E também o facto de estarmos perante dois perfeitos representantes de uma sociedade que já não existe, mas que insiste em não perecer por muito que caia no ridículo de não largar certas maneiras de falar e de agir em público. É uma espécie de crepúsculo dos deuses, um acidente rodoviário que não consigamos evitar de olhar. Mas acima de tudo, por sermos espectadores privilegiados de uma espécie de reality show que supera qualquer argumento que o mais dotado escritor seria incapaz de criar: a relação entre esta mãe e filha é digna de uma peça de Nöel Coward com os seus requintes de absurdo e sempre pontuadas com apontamentos de cultura para que não esqueçamos que estas duas senhoras têm as três qualidades essenciais numa mulher na época em que foram criadas – brains, breeding and beauty.

Mas fiquem com o filme, porque realmente as palavras não são suficientes para mostrar o quão fascinante GREY GARDENS é. E tornem-se fãs.