Cinema Nun'Álvares reabre com Avatar

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009


Por Sérgio C. Andrade in Público

"Jovem empresário moçambicano aposta na recuperação da histórica sala da Boavista, na qual pretende conciliar o cinema comercial com os filmes independentes



É uma boa notícia para os cinéfilos e para os portuenses espectadores de cinema em geral, que vem contrariar o que tem acontecido nos últimos anos neste sector: o Porto vai voltar a poder contar com um dos seus cinemas históricos - o Nun"Álvares, na Rua de Guerra Junqueiro, que ontem à noite reabriu ao público com o último filme de James Cameron, Avatar, exibido em 3D.A iniciativa partiu de Elias Macovela, um jovem empresário nascido em Maputo, em 1977, que para o efeito criou a empresa Malayka Filmes, que se ocupará da gestão e programação da sala portuense.
Elias Macovela, que é também administrador-delegado da distribuidora de cinema independente Pantheon Entertainments, com sede em Lisboa, diz ter decidido investir agora no Porto, e em particular no Nun"Álvares, por motivos de certo modo "afectivos". É nesta cidade, na zona do Campo Alegre, que mora a sua filha, ainda criança, e que é o principal motivo das suas repetidas visitas ao Porto - que também conhece das viagens profissionais como técnico de luz de companhias de teatro como a Cornucópia.
"Primeiro, nas folgas do teatro, aos domingos e segundas-feiras, e depois, quando vinha buscar a minha filha, frequentava habitualmente o Nun"Álvares e gostava muito do cinema", recorda o empresário. Um dia, depois de 2005, chegou lá e viu as luzes apagadas. "Fez-me confusão ver fechado um cinema tão bem localizado, ainda por cima num bairro muito dinâmico, com escolas de música e artísticas por perto, para além da Universidade", diz Elias Macovela, que desde essa altura viu no Nun"Álvares um desafio para si próprio.
Os contactos para o arrendamento desta casa começou a fazê-los há cerca de um ano. "Não procurei outros cinemas. Era o Nun"Álvares que eu queria", diz Elias Macovela, que, assegurado o acordo para um período experimental de dois anos, tratou de dotar o cinema com o mais moderno equipamento de projecção digital e também 3D - que lhe permite exibir agora o filme de James Cameron.
Duas sessões à meia-noite
O novo exibidor realça, aliás, o facto de o cinema manter todas as condições funcionais. "O ecrã, a plateia, a cabina de projecção, o sistema de cortinas e o ar condicionado estão todos em perfeitas condições", diz, acrescentando que a gestão da sala será assegurada por uma pequena equipa de quatro pessoas (mas nenhuma delas é antigo funcionário do cinema).
O programa de Elias Macovela para o Nun"Álvares é o de conciliar o cinema comercial, principalmente nos fins-de-semana, com as cinematografias independentes, nomeadamente os filmes que o próprio distribui através da Pantheon Entertainments - que detém títulos como Lake Tahoe, de Fernando Eimbcke, Disierto Adentro, de Rodrigo Plá, Le Fils de l"Épicier, de Eric Guirado, The Lemon Tree, de Will Campbell - e que preencherão os dias da semana. Elias Macovela está também aberto a colaborar com festivais como o Fantasporto ou o Indie, e em iniciativas sazonais como a Festa do Cinema Francês, bem como com o Cineclube do Porto e a anunciada Cinemateca para a cidade.
Aproveitando as novas tecnologias de exibição, o cinema poderá ainda "exibir conteúdos alternativos, nomeadamente transmitir concertos em directo", diz o empresário. O Nun"Álvares terá quatro sessões diárias, a que se acrescentarão a sessão da meia-noite às sextas-feiras e sábados."

Malta do Ministério da Cultura, vejam se seguem o exemplo e reabram também a Casa das Artes.