What's Up Tiger Lily? ou Os Primórdios de Woody Allen Parte 1

Acreditem ou não, o filme que vos trago aqui hoje foi a primeira longa-metragem de Woody Allen. Só que não foi realizada por ele. Pelo menos, em parte. Confusos? Eu explico.

Ainda antes de ser o queridinho dos intelectuais-que-gostam-de-se-rir por esse mundo fora, Allen começou a sua carreira como cómico de stand-up (algo a que ele vai aludir no seu clássico ANNIE HALL), sempre com um olho no cinema. A sua oportunidade vai surgir quando a AIP (American Pictures International, uma produtora americana que tinha o mercado adolescente como alvo e o cinema de Drive-in como palco) compra os direitos de exibição de um filme japonês (KEY OF KEYS) e o entrega a Allen, convidando-o a remontar o filme a seu bel-prazer e a fazer novos diálogos em inglês (ainda hoje os americanos não gostam de legendas nos filmes, quanto mais na altura...).

Hoje em dia, Allen renega o filme com quantas forças tem, mas o que é certo é que, na altura, ele aproveitou essa oportunidade de ouro para dar asas ao seu sentido de humor muito particular e subverter o enredo para bem das piadas. Claro está que o filme se tornou irreconhecível em relação ao seu formato original e, embora seja um pouco sacrilégio fazer o que Allen fez (de certezinha que ele não gostaria que fizessem isso a um filme dele...), o resultado final é, no mínimo, muito interessante. Foram até feitas duas dobragens: uma mais cáustica para os cinemas e outra mais "higienizada" para a TV. Eram outros tempos.

Pelo meio, tocam os Lovin' Spoonful num concerto ao vivo com muito americano teenager a "swingar" e muita cabeça a abanar. E agora, perguntam vocês: o que é que isto tem a ver com o resto do filme, já que a história é passada no Japão, com actores japoneses a darem uma de James Bond com um enredo que mete espiões, mulheres semi-nuas e muitas armas? "Nada", é a resposta. Isto porque, em contrapartida, neste filme vale de tudo.