Four Flies on Grey Velvet

sábado, 2 de outubro de 2010



Aquele meu recente post sobre a trilogia das Mães de Dario Argento relembrou-me que ainda havia um filme dele que eu ainda não tinha visto, embora vontade não me faltasse. A culpa não é totalmente da minha preguiça, visto que este filme se tornou uma raridade no mercado Home Video e só há relativamente pouco tempo é que se encontra disponível em DVD "english friendly" (leia-se: com pelo menos o audio em inglês para facilitar os que não nasceram em Itália, nem sabem falar a língua de Berlusconi...).

O filme em questão chama-se 4 MOSCHE DI VELLUTO GRIGIO, ou em inglês FOUR FLIES ON GREY VELVET e foi o terceiro filme realizado por Argento, numa altura em que o seu nome já era sinónimo de grande popularidade tanto pela parte do público, como da crítica da altura. Há quem diga que este filme não é dos seus melhores, nem merece o estatuto de "pérola escondida" como ficou conhecido este tempo todo em que lhe foi negada uma edição em DVD. E realmente não é. O que não quer dizer que seja um filme fraco. De todo. Muito pelo contrário. Mas o que é certo é que ele iria fazer coisas bem melhores e infinitamente mais interessantes nos seguintes filmes. No entanto, e a meu ver, FOUR FLIES ON GREY VELVET é um filme importante se quisermos realmente perceber a direcção que Argento iria seguir no giallo que o transportaria para a fama internacional - DEEP REED a.k.a. PROFONDO ROSSO. Eu explico tudo no parágrafo seguinte e previno desde já que vão haver spoilers.


Para quem já viu DEEP RED e logo vê FOUR FLIES, há toda uma série de elementos que se repetem, denotando da parte de Argento uma vontade de os expandir e de os aprofundar no filme de 1975. Ambos os filmes começam com uma banda a praticar; há a memorável tracking shot que atravessa umas cortinas de veludo cardinal; há a figura do homossexual assumido; o carro velho e desengonçado; Roma como cidade misteriosa e cálida; o prazer sádico na execução e teatralidade com que os assassinatos são mostrados; e o twist final que brinca com as aparências ilusórias de certas personagens com um grande subtexto freudiano/edipiano como fundo de pano. Fim dos spoilers.


Como vêem, assistir a FOUR FLIES tendo já visionado DEEP RED é como ver um realizador a crescer, no caso do segundo filme, ao mesmo tempo que encontra a sua maneira exacta de expressão cinematográfica. E é aqui que reside para mim o encanto maior de FOUR FLIES. No entanto, se ainda não viram nem um, nem o outro, aqui fica a recomendação. E um último apontamento: ninguém filma tão bem o calor opressivo de Roma no pino do Verão como Argento. Quase se consegue sentir a temperatura na nossa pele. E isto é raro.