Le Viol du Vampire de Jean Rollin

quarta-feira, 14 de outubro de 2009


Este primeiro filme do francês Jean Rollin é uma anomalia na cinematografia do seu país natal e o seu autor continua a ser também ele uma excepção não só no cinema de terror como no Cinema em geral. Eu passo a explicar.

O cinema francês nunca teve propriamente uma tradição de produzir filmes de terror até bem há pouco tempo (esta nova vaga de filmes slasher gálicos com grandes doses de sangue, brutalidade e tortura começou devido ao grande sucesso de HAUTE TENSION), por isso quando Rollin começa a dar os seus primeiros passos na 7ª Arte, não havia por lá grande entusiasmo em gastar dinheiro com estas coisas. Somente Georges Franjú (autor do belíssimo LES YEUX SANS VISAGE) e poucos mais se dedicavam à nobre arte de fazer arrepiar espectadores. O que não quer dizer que na França não gostassem deste tipo de entretenimento, por assim dizer. De todo. Se bem se recordam, foram eles os percussores do Théatre du Grand Guignol, uma espécie de teatro onde as representações consistiam em dramatizar grandes actos de violência, tortura e barbaridade como se da mais alta arte se tratasse. Mas continuemos.

Quando LE VIOL DU VAMPIRE é lançado nas salas de cinema, os resultados são, no mínimo, polémicos. Há mesmo tumultos a serem registados em alguns locais, tal é a indignação por parte de certos espectadores. Porquê, perguntam vocês e muito bem. Bem, para começar, o filme está feito com uma urgência/demência que mais parece que o mundo vai acabar a todo o momento, por isso toca lá a despachar a rodagem. Há realmente toda uma sensação de histerismo por parte dos actores e por parte da montagem que transparece para fora da tela. Depois, a quantidade de nudez e actos profanos (e até de contextos anacrónicos) são debitados com tal frenesim que deve ter sido um pouco difícil para os espectadores da altura consiguirem assimilar isto tudo sem se sentirem, no mínimo, ultrajados. É claro que para os nossos olhos de cinéfilos do século XXI o filme já não tem a mesma força, mas há passagens e certas cenas que ainda hoje impressionam pelo seu poder visual.

Resumindo e concluindo: quando um filme se torna num succés de scandale, é claro que o realizador tem logo carta verde para fazer mais do mesmo. E foi exacta e literalmente isso mesmo que Rollin fez durante o resto da sua carreira: digamos que na sua filmografia é raro não encontrar um filme seu que não tenha um enredo que envolva vampiras nuas (quase sempre lésbicas, como convém a estas andanças e, aliás, o seu próximo filme chamar-se-ia exactamente LA VAMPIRE NUE), grandes matanças e cada vez maiores doses de sangue, e o mar. Sim, o mar. Como vêem, estamos perante alguém que possui todos os requisitos de um auteur maldito. Alguém que não olha a meios para fazer passar a sua visão, tenha o filme sucesso comercial ou não. Porque isso para aqui não interessa nada. Longa vida à sua raça.