Profound Desires of the Gods

quarta-feira, 28 de julho de 2010



O fantástico do Cinema japonês é que as grandes obras são inesgotáveis. Ou pelo menos, assim mo parecem, porque a quantidade de filmes de altíssima qualidade que já vi até agora é tão grande que a sensação que me deixa é que eles não são capazes de fazer um filme verdadeiramente mau.


THE PROFOUND DESIRE OF THE GODS é um filme relativamente esquecido de um dos realizadores chave da Nova Vaga do Cinema japonês dos anos 60 - Shohei Imamura - e que só muito recentemente tomei conhecimento. Depois de o ter visto, posso com toda a certeza afirmar que é um dos seus melhores. E isto, numa carreira recheadinha de grandes obras e a maior parte delas obrigatórias. O curioso é que este filme quase arruinou a carreira de Imamura, devido ao grande fracasso comercial e da crítica que teve na altura e levou a um grande interregno temporal entre este filme e o próximo. Ora, como o Tempo tem destas coisas, a sua recente reavaliação vem dar a Imamura o reconhecimento de ter feito uma obra cheia de grande significado e relevância sociológica, sempre presentes, aliás, nos seus maiores filmes.


Dono de um olhar muito seu, Imamura enquadra as suas personagens no ambiente em que as mesmas se inserem e atribui-lhes características intrínsecas a esses mesmos ambientes. Isto quer dizer o quê: quer dizer que as suas personagens agem de acordo com os seus instintos e segundo as convenções das enraizadíssimas tradições. Neste caso, a premissa é, no mínimo, exótica. Temos uma ilha - Kagure - onde o misticismo e a mitologia são ainda muito presentes nas vidas nos seus habitantes, e uma família - os Futori - que são a peça central de toda a trama e que se vão tornar em peças de um jogo de xadrez destinado à tragédia. Os Futori possuem ainda uma característica a assinalar: as suas mulheres têm a capacidade de serem Noros (donas de uma espécie de shamanismo). Imamura brinca aqui com primitivismos, como se pode ver, e conjuga-os com uma civilização que se assume como invasora e inexorável e que vai mudar a vida não só dos Futori, como do resto dos habitantes da ilha para sempre. O cocktail é bombástico, como podem ver.


Se a tudo isto, juntarmos uma fotografia a cores e em Scope completamente brilhante e que consegue captar na perfeição a beleza natural dos cenários e se pensarmos que o filme tem a duração de quase 3 horas, depressa vemos que temos entre mãos um objecto fílmico a não perder. Chamada de atenção para o uso simbólico de buracos na terra, um tema presente em múltiplas obras japonesas e altamente eficaz como metáfora visual. A ver a todo o custo para quem se interessa por bom cinema.