Morgiana

sexta-feira, 15 de outubro de 2010



Assim como quem não quer a coisa, Juraj Herz passou de um realizador checo completamente desconhecido para mim até há uns meses atrás, para alguém de quem fiquei fã após ter visto recentemente três filmes dele. Fã mesmo. Assim como quem não quer a coisa.

Já por aqui tinha escrito sobre a sua adaptação do clássico A Bela e o Monstro - Panna a Netvor - e como esse filme me tinha fascinado com a sua riqueza de imagens e de simbolismos. Daí a ver um outro filme seu (THE CREMATOR, sobre um cremador, nem mais e filmado de uma maneira tão gótica quanto febril) foi um passinho. Mas havia um outro seu que me escapava e que eu queria ver mais que nenhum e é esse mesmo que eu aqui trago hoje: MORGIANA.


Baseado num conto de Aleksandr Grin, Jessie and Morgiana, conta-nos a história de duas irmãs que após perderem o seu pai, herdam cada uma uma parte do seu grande espólio. E à boa maneira literária, uma tem tanto de maquiavélica e invejosa como a outra tem de boazinha e angelical. E vai ser a partir desta balança altamente desequilibrada de personalidades antagónicas que as linhas desta trama se irão tecer. Se vos disser que ambas as irmãs são interpretadas pela mesma actriz com grande savoir-faire e óbvio prazer e que todas estas andanças foram filmadas por Jaroslav Kucera, o mesmo senhor responsável pelas imagens de outro filme-chave da Nova Vaga Checa dos anos 60 - DAISIES de Vera Chytilová - têm aqui indícios suficientes para o quererem ver com toda a urgência.


O curioso da coisa é que este filme não é tido lá muito em conta pelo próprio realizador. Ele considera-o mais como um exercício de estilo na área do gótico e do fantástico a que ele se propôs a fazer para não perder o "jeito", vá lá. Por mim, ainda bem que o fez, porque o resultado final é magnífico. Mas se pensarmos bem, e se tivermos em conta o ambiente politico-cultural que se viveria na Checoslováquia dos anos 70, então não o podemos mesmo julgar muito arduamente. É que ele devia estar numa situação em que ou fazia filmes, sejam eles quais fossem os temas ou estilos, ou então não os fazia mesmo se a sua intenção fosse realizar algo que fosse contra as ideologias de então. Uma coisa é evidente: o seu talento em captar imagens de um enquadramento exímio e de um pormenor extremo, já não falando, está claro, na sua capacidade de nos hipnotizar com a maneira como a história nos é contada. E é aqui que se vê a marca de um grande realizador.

Ah!, só mais uma coisa: a Morgiana da história é esta gata siamesa que estão a ver aqui em baixo e uma coisa vos digo, o desfecho deste filme vai depender e muito desta gatinha. E mais não digo, a não ser que quase de certeza o vou ver outra vez esta noite!